Mês passado passei dez dias em Rio Branco, capital do Acre. Pois é, o Acre não só existe como é muito simpático e tem um povo muito gentil. Alguns amigos perguntaram se a razão da minha viagem era castigo ou algo parecido. Nenhum dos dois: meu pai nasceu no Acre e se mudou para Belém com vinte e poucos anos, estudou, casou, separou, fez carreira como professor universitário, conheceu minha mãe, eu e meu irmão nascemos... E depois de tudo isso, ele decidiu que queria voltar aonde tudo começou. E a mim, como boa filha, só restou acompanhá-lo.
Acho que o mais importante nessa viagem toda foi descobrir a vida antes de mim, a vida que meu pai levou enquanto morava lá, o que inclui a infância, adolescência e inicio da fase adulta. Era curioso andar por Rio Branco e meu pai dizer “Aqui não tinha isso, era diferente”. Eu tentava, com a toda a minha criatividade disponível, imaginar o passado. E quando ele contava as histórias envolvendo outras pessoas, ele as descrevia com detalhes, e eu tentava imaginar, como em um filme antigo, aquelas pessoas, aquelas histórias... Encontramos alguns conhecidos do papai, que até então eram personagens do filme antigo da minha imaginação, provando que tudo era real e que ele, de fato, tinha vivido tudo aquilo que me contava.
As histórias da juventude dele provam o que os mais velhos sempre falam pra gente: “já tive a sua idade”. Eram histórias sobre os amigos, as namoradas, as festas, as bebidas, as histórias, quem namorou com quem, quem casou com quem, quem traiu quem, quem foi morar longe, quem continuou aqui, quem enriqueceu, quem morreu na miséria... Me imaginei daqui a alguns anos, com meus amigos de hoje, conversando sobre os rumos que a vida de cada um tomou.
As histórias das festas, bebidas e namoros eram as que mais me interessavam. Quer dizer, eu to vivendo isso hoje, né? A gente está vivendo isso hoje e nossos pais já passaram por tudo o que estamos passando agora. Claro que o contexto era completamente diferente, há décadas atrás, assim como, minha mãe já me contou sobre as experiências dela enquanto jovem em outro período também. Mas, guardando às devidas proporções, é tudo igual: todas as pessoas sentem as mesmas dúvidas, medos, angústias, alegrias, descobertas e tudo mais, de bom e de ruim, que a juventude pode oferecer.
Acho que agora entendo porque os pais sempre dizem para nunca fazermos isso ou aquilo: deve ser medo de que algo aconteça conosco, dê errado e isso mude totalmente o rumo ideal das nossas vidas. Mas, até que ponto isso é certo? Não deveríamos seguir nosso caminho, aprendendo com os próprios erros? Não sei. Só sei que nossos pais só querem o nosso melhor, mais do que qualquer outras pessoas nesse mundo.
Aprendi, nesses dias de viagem, dentre outras mil coisas e para finalizar, que devemos sempre acreditar em nossos pais, ao mesmo tempo que é essencial perguntar a eles como era a vida antes de nós.
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